Viagem de trem para dentro de mim

trem

Agora eu pego aquele mesmo vagão de todas as noites. Logo que entro vejo um lugar vazio. Sento, coloco os fones e ouço a música instrumental. Percebo outro lugar vazio e, quando me dou conta, estou sozinha no vagão. Olho fixamente pro final do corredor de assentos e luzes.
Há uma porta me olhando também, com a mesma perplexidade. Imagino por instantes o que há por detrás dela e ela também me questiona: o que há por detrás de você? Permaneço com a questão mas desvio o olhar.
Cruzo com as janelas do outro vagão, esse cheio. Ele se vai tão depressa quanto posso perceber. Mantenho o olhar fixo na janela. A parede passa em alta velocidade e quase acho que estamos parados.
Volto a pensar no questionamento que a porta me fez. Nem bem volto a pensar e as portas laterais se abrem na próxima estação e o vagão vazio vai aos poucos sendo preenchido de pessoas e questionamentos.
Não vejo mais a porta e percebo que ela sou eu. Sou eu quem observa, estática e sem reação. Sou eu que me reflito porta, trancada e misteriosa.

(Barbara Marry)

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